Entrevista: John Lawton

O lendário vocalista de bandas como os cultrockers Lucifer’s Friends ou os hardrockers Huriah Heep, John Lawton está de regresso de uma forma de todo inesperada. A convite de Milen Vrabeveski juntou-se ao coletivo búlgaro Diana Express e com um riquíssimo conjunto de convidados, onde se inclui a Orquestra Sinfónica de Pleven, vocalizou os temas para o álbum The Power Of Mind, já entretanto criado pelo músico búlgaro. O resultado é sensacional e por isso, impunha-se ouvir a voz deste grande trabalho.
 
Olá John, antes de mais deixa-me dizer que é um prazer para mim poder entrevistar uma autêntica lenda viva do rock'n'roll. Podes explicar como aconteceu esta ligação com Milen Vrabevski e Diana Express?
Uma lenda viva! Obrigado por isso. Um músico amigo meu da Bulgária colocou-me em contacto com o Milen que queria que eu ouvisse um CD que ele tinha escrito e produzido, mas estava cantado em búlgaro. Naturalmente as faixas já tinham sido gravadas com os Diana Express e depois de olhar para a tradução lírica para Inglês, eu tive que fazer isso. Demorei cerca de 10 dias para fazer todos os vocais, incluindo backing vocals, mas valeu a pena.....
 
The Power Of Mind acaba por ser um álbum conceptual. Qual o seu conceito?
A ideia é transmitir uma boa sensação a todos os ouvintes e acho que isso foi conseguido. Senti que quando cantava, era como ler um livro a um amigo, em que cada música era um capítulo diferente.
 
E pelo que me apercebi, o objetivo era tentar passar uma mensagem positiva…
Sim, e acredito que tenha feito isso, pelo menos as pessoas que ouviram o álbum deixam transparecer isso.
 
Pensas que os teus fãs mais antigos poderão ser surpreendido com este novo álbum? Queres deixar alguma mensagem para eles?
Acho que muitos dos meus verdadeiros fãs irão reconhecer que eu tento sempre fazer algo diferente com cada nova gravação que faça. Acho que é importante na cena musical de hoje, tentar fazer algo que os fãs não estão à espera e mais uma vez acho que consegui fazer isso.
 
Podemos regressar no tempo? Estiveste vários anos em bandas como Uriah Heep ou Lucifer’s Friend. Como te sentes agora, olhando para trás e ouvindo o teu trabalho naquela época?
Acho que a minha voz era muito mais forte nessa altura (risos). Não, a sério, eu olho para trás e vejo o meu tempo com os Lucifer’s Friends com muito carinho. Acho que musicalmente estávamos à frente do nosso tempo e musicalmente gravámos algum material maravilhoso. Os Uriah Heep foram para mim em muitos aspectos, uma continuação dos meus dias de Lucifer’s Friend. Os Heep foram e ainda são uma grande banda e a eles lhes devo muito do que sou hoje, tanto musical como pessoalmente. Nós ainda somos bons amigos e espero que continue assim....
 
Como lidaste com o sucesso naquela altura?
Bem, juntar-me aos Uriah Heep foi um grande passo para mim, porque naquela altura os Lucifer’s Friends eram mais de uma banda de culto e, claro, não tão conhecidos como os Heep. Portanto, acho que houve momentos em que eu não lidei bem com isso e levou algum tempo até me acostumar a tocar em grandes estádios. Mas eu tinha a minha família à minha volta e mantive os pés bem assentes no chão. Mas, olhando para trás, acho que lidei bem com tudo.
 
Que momento da tua carreira pode ser visto agora como o mais marcante, na tua opinião?
Acho que o momento mais marcante foi o espetáculo Butterfly Ball no Royal Albert Hall, em Londres, em 1973. Roger Glover (Deep Purple) pediu-me para cantar algumas músicas nesse show, juntamente com Glen Hughes, David Coverdale e muitos outros grandes músicos e estar no mesmo palco como Jon Lord é algo que eu nunca esquecerei. Vindo da obscuridade para esse tipo de espetáculo é definitivamente notável.
 
Além das duas bandas citadas, participaste em vários outros projetos, alguns deles menos conhecido, suponho. Guardas recordações de alguns deles em particular? Por quê?
Eu acho que os dois álbuns que fiz com uma banda de Estugarda, Alemanha inicialmente chamada Rebel com posterior mudança de nome para Zar. Perguntaram-me se eu queria produzir o primeiro álbum, mas, quando fomos para as gravações, ficou claro que o cantor não conseguia cantar as músicas, então eles pediram-me para o fazer. Realmente senti pena do cantor e tentei muitas maneiras de o ajudar, mas ele simplesmente não conseguia. No final acabei por cantar em ambos os álbuns.
 
Ainda estás a trabalhar com o coletivo esloveno Mary Rose? Alguma vez se falou em gravar algum álbum?
Não, já não trabalho com os Mary Rose há um par de anos. Penso que tiveram mudanças de pessoal. Nós fizemos alguns shows juntos e eles são uma boa banda e músicos excelentes, mas nós nunca discutimos a hipótese de uma gravação, mas quem sabe, a música é um jogo engraçado.
 
Tens uma certa tendência para os grupos dos Balcãs…
Foi a forma como a minha vida musical se desenvolveu ao longo dos últimos anos. Há alguns músicos maravilhosos nesta área do mundo e queria acabar com os mitos de que os únicos grandes músicos vêm dos EUA ou o Reino Unido. Acho que os fãs de rock desta parte do mundo (Balcãs) foram privados da música que gostavam durante tantos anos por causa do comunismo etc, que agora dão as boas-vindas com os braços abertos
e os próprios músicos, têm a oportunidade de tocar abertamente e se eu puder ajudar de qualquer maneira, então isso é ótimo.
 
E a respeito do teu próprio projeto, há novidades?
Estamos a discutir o sucessor de The Power Of Mind e sei que há algum material novo ainda numa fase muito embrionária, por isso vamos ver o que acontece nos próximos meses. Mas agora estamos focados em levar este álbum até aos fãs.
 
E achas que é possível levar o conceito de The Power Of Mind para palco?
Se estás a falar de concertos ao vivo, sim. Já fizemos alguns shows na Bulgária para testar a reação dos fãs e foram muito bem-sucedidos.
 
Obrigado pelo teu tempo e agora dava-te a oportunidade de dizer algo mais aos nossos leitores e aos teus fãs em Portugal...
Sabes, nunca estive no teu país. Vi na TV e os meus amigos dizem-me que eu deveria visitar nas férias e irei. Mas quem sabe talvez com The Power Of Mind eu possa ir e apresentar o álbum ao vivo e conhecer, também, o teu belo país. Um grande OLÁ e tomem cuidado com um John Lawton…

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