Marty Walsh é
um conceituado músico e professor norte-americano. Eventualmente, a sua
passagem pelos Supertramp será sempre um dos pontos mais altos da sua carreira.
O guitarrista apresenta pela primeira vez um trabalho instrumental, The Total Plan com um resultado
simplesmente sensacional. Por isso, fomos conversar com Marty para conhecermos
um pouco mais do álbum, do guitarrista e do homem.
Olá Marty!
Obrigado pelo teu tempo despendido com Via Nocturna! Podemos conversar um
pouco?
Absolutamente, e gostaria de dizer muito obrigado por também
teres despendido tempo a elaborar esta entrevista!
Este é o teu primeiro
álbum instrumental, não é? Porque decidiste tomar esta opção?
Quando comecei a dar aulas na Berklee College of Music, decidi ressuscitar este projeto
instrumental que começou em 1994, quando um produtor de LA, Jeff Weber, me
pediu para apresentar algumas faixas instrumentais para um potencial lançamento
por uma editora japonesa. Esse projeto nunca chegou a começar verdadeiramente. Voltei
a essas gravações iniciais, decidi usar duas neste disco e preencher o resto com
várias peças de música onde já tinha trabalhado mas estavam incompletas. A
principal razão porque decidi fazer isso foi porque, enquanto guitarrista,
sinto que tenho uma abordagem um pouco diferente do instrumento. Não queria
fazer, necessariamente, um disco de "guitarra". Pensei que seria mais
interessante contactar algumas pessoas com quem trabalhei ao longo da minha
carreira e perguntar-lhes se queriam tocar neste disco comigo. Felizmente todos
eles concordaram.
Então,
exatamente, quando te surgiu esta ideia e quando começaste a trabalhar nele?
Como já disse antes, as faixas iniciais foram gravadas
em 1994; ressuscitei o projeto em 2003, por isso demorou um pouco mais de 10
anos até estar concluído. As faixas de 1994 são The Duke e Now Is The Time.
E, pelo que
pude perceber, a ideia inicial era logo de trabalhar com todos estes
convidados?
Sim, quando comecei a formular o meu conceito para o
álbum, pensei que seria uma ótima ideia poder contar com uma série de outros
músicos que trazem toda a sua identidade ao projeto. Por exemplo na música Coast To Coast o trabalho de teclado foi
feito por Bill Cuomo, com quem trabalhei em meados dos anos 70. A bateria nessa
faixa esteve a cargo do meu amigo John "JR" Robinson, com quem tenho
trabalhado de forma muito chegada ao longo dos anos. A tocar baixo está a
incrível Abe Laboriel. Eu já tinha trabalhado com John e Abe em bastantes
discos ao longo da minha carreira. Decidi fazer essa peça como um jogo de
pergunta-resposta com solos de sax tenor e trompete junto com a minha guitarra.
Como eu estava a pensar em quem chamar para tenor, ocorreu-me Gary Herbig. Gary
e eu tocámos na canção She Works Hard For
The Money de Donna Summer na década de 80. Para o trompete chamei um colega
meu de Berklee, Darren Barrett, que é
um trompetista monstruoso.
E como foi a
escolha dos restantes músicos. Todos em quem pensaste estavam disponíveis?
A todos que pedi concordaram. Eram todas pessoas com quem
já havia trabalhado anteriormente e com quem tinha boas relações de trabalho. O
título do álbum é The Total Plan porque
era apropriado, uma vez que estas pessoas são músicos com quem trabalhei durante
quatro décadas em várias fases da minha carreira.
Considero
este álbum estilisticamente muito rico e muito diversificado. Isso fica a
dever-se à quantidade de personalidades envolvidas, seguramente. Mas também há
um grande mérito do seu criador…
Bem, é essencialmente pelo design. Mais uma vez vou dizer que trazendo diferentes músicos para
tocar em diferentes músicas, todos irão trazer a sua própria identidade para essa
música o que resulta nessa diversidade. Foi um projeto fascinante no sentido em
que eu tinha uma música e pensava num músico em particular que era apropriado.
Entrava em contacto com esse músico e quando tinha a sua parte pensava no
músico seguinte. Devido a isso acho que há um verdadeiro fluxo no álbum que o
torna musicalmente diversificado e, esperamos, também fácil de ouvir porque
cada canção transporta o ouvinte numa viagem. Em termos de conceito era isso
que eu procurava.
Como decorreram
as sessões de gravação? Trabalharam todos em conjunto ou cada um fez o seu
trabalho sozinho?
Esse foi um dos aspectos mais surpreendentes deste
projeto, pois foi literalmente gravado em estúdios caseiros de LA a Nova York, de
Nashville a Boston. Fiz algumas viagens até Los Angeles para gravar com algumas
pessoas, houve um pouco de trabalho realizado em estúdios locais de Boston, mas
basicamente, todas as pessoas trabalharam por conta própria nos seus estúdios
em casa. E o que me deixa muito feliz é a coesão de todos os sons. Literalmente
tinha uma música num determinado nível de conclusão. Pensava: agora preciso de
bateria, baixo, teclados, o que for. Entrava em contato com um músico em
particular e perguntar-lhe se concordaria em tocar numa música para mim.
Enviava os ficheiros pela Internet,
esperava duas semanas, um mês, o que fosse preciso de acordo com as agendas
desses músicos. Depois inseria esses ficheiros de áudio no meu projeto e fazia o
próximo telefonema! Devo dizer isto: um dos meus mentores como músico e
guitarrista é Jay Graydon. Quando queria que Gary Herbig, que vive em Los
Angeles, gravasse, sabia que precisava chamar Jay e pedir-lhe para gravar Gary.
Voei até LA, foi ao seu estúdio, Garden
Rake e passei um tempo fantástico com Jay e Gary. Diversão absoluta e um
maravilhoso passeio pela estrada da memória.
Sei que tens
estado a trabalhar com um realizador a fim de determinar que músicas poderiam
ser boas escolhas para vídeos. Já chegaram a alguma conclusão?
Sim, estamos inclinados para Like A Rock e The Duke.
Há uma aluna com quem tenho trabalhado em Berklee,
que se chama Callie Huber. Callie é uma fantástica cantora/compositora a quem tenho
feito algumas gravações e dei-lhe um exemplar do meu álbum. Disse ela: “eu faço
vídeos de música, queres que faça um para este álbum”? Respondi para ouvir o
álbum, dar a sua opinião e sim, vamos fazê-lo.
Como
ex-Supertramp, que memórias guardas do período em que passaste nessa autêntica instituição
musical?
Uau, bem que poderia continuar aqui
durante por páginas e páginas, mas vou dar-te algumas das minhas melhores
lembranças. No entanto, primeiro deixa-me começar com um pouco de história. Bob
Siebenberg e eu tocamos algumas vezes quando éramos estudantes do ensino secundário
em Glendale na Califórnia. Anos mais tarde estivemos juntos num clube de Los
Angeles. Ele estava de regresso das sessões de mistura de Breakfast In America. Iniciamos uma nova amizade e começamos a
trabalhar juntos na música. Eventualmente acabei por conhecer todos os elementos
dos Supertramp com exceção de Roger. Um dia, em 1981, recebi um telefonema de
Rick. Estavam a trabalhar no álbum Famous
Last Words. Como já tinha tocado
antes com Rick e a banda em festas e coisas assim, perguntou-me se gostaria de
ir para estúdio e fazer alguma jam. Não
seria para o álbum, ele só queria ver como as coisas funcionariam em estúdio
comigo. Divertimo-nos muito a tocar mas foi apenas isso. Da vez seguinte que
conversei com Rick foi quando ele me agendou para as sessões de gravação do
álbum Brother Where You Bound. Estas
foram sessões incríveis, no estúdio Ocean
Way, em Los Angeles, com Allen Sides como engenheiro e David Kirschenbaum na
produção. Alguns gigantes naquela
sala! Fui para a estrada com eles em 85 e 86 e foi absolutamente incrível.
Encontramo-nos com a Princesa Diana no Albert Hall, memórias assim, absolutamente
uma grande experiência. Outra das minhas muito boas recordações foi
aquando do trabalho no álbum Free As A
Bird. Mark Hart, que também
esteve com os Supertramp nas tours de
85 e 86 tinha feito algum trabalho de guitarra no álbum. Rick chamou-me para
terminar o álbum. Free As A Bird
estava destinada a ser o single, mas
Rick sentiu que não estava pronta, que faltava alguma coisa. Toquei guitarra de
12 cordas nessa música e Rick disse que isso deu vida à música. Quando fomos para
a estrada em 1988 na tour de suporte
a esse álbum ele fez alguns comentários muito bons no tour book sobre o meu trabalho no álbum que realmente gostei.
Outro
ex-Supertramp, Carl Verheyen também lançou um álbum solo. Já tiveste a
oportunidade de o ouvir?
Ouvi a música Mustang
Run, que estava num podcast de Don
Campau juntamente com a minha música Like
A Rock há algumas semanas. Carl é um guitarrista incrível, com uma
quantidade incrível de truques. Chegamos a tocar juntos há alguns anos atrás,
quando ele foi para o leste fazer um espetáculo e eu entrei em Bloody Well Right. Pessoa impecável.
Obrigado
Marty! Foi um prazer! Queres acrescentar mais alguma coisa?
Tudo o que eu diria é que espero que os teus leitores
apreciem o álbum. Foi concebido para ser um álbum que músicos e não-músicos
podem apreciar, mesmo que seja música instrumental. Mais que um disco pop, rock
ou jazz. Inicialmente, todas as
músicas eram vocais, por isso parecem ter 3-5 minutos de sensibilidade. E tem melodias
memoráveis que podem ser cantadas. Muito obrigado por despenderes algum do
teu tempo a elaborar esta entrevista! Apreciei muito! Quem quiser adquirir o
álbum deve ir a http://www.cdbaby.com/cd/martywalsh, para fazer o download ou comprar o CD em formato físico.
Também podem ir ao meu site
www.martywalsh.com onde há um link
para o Ebay onde podem comprar um
exemplar autografado, com portes grátis para todo o mundo.
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