Review: Sobrenatural (Gazua)

Sobrenatural (Gazua)
(2015, Rastilho Records)
(5.8/6)

Um grupo independente atingir a marca de cinco álbuns num país como Portugal é notável, relevante e merece todo o respeito. Esse grupo chama-se Gazua, conhecido dos meandros rockeiros (punk e não só!) por apresentar trabalhos de grande qualidade. E por nunca estagnar, assinando álbuns sempre com algo de inovador, dando sempre um passo em frente. E desta vez, isso volta a suceder com Sobrenatural. Mas desta vez o passo foi mesmo gigante! Os Gazua arriscam entrar por campos até agora impensáveis. O punk mantém-se na atitude e nas palavras (raiva, fúria, grito, por exemplo, continuam a aparecer muitas vezes). Mesmo que com poesias cada vez mais elaboradas e profundas, aquele sentimento de injustiça, de indignação e de revolta continua presente mas apresentado de uma forma muito mais sofisticada. Musicalmente, depois de uma curta intro cheio de feedbacks surge Envolve-me, o primeiro tema que, claramente faz a ponte com o passado. Sim, porque os lisboetas evoluíram mas não cortaram de todo com o seu memorável passado. E este Envolve-me abre uma sequência de verdadeira magia com o tema título, soberbo, Montanha e Tempestade. Montanha revela-nos uns surpreendentes Gazua, como nunca os havíamos visto: uma linha de guitarra a fazer a segunda voz verdadeiramente soberba numa melodia que parece retirada dos grandes cantadores da nossa história – Zeca e Adriano! Já Tempestade é uma das faixas mais heavy de todo o disco. Chegamos a meio já deliciados, mas ainda há muito mais para ouvir e descobrir. Sangue Bravo introduz elementos folk, O Muro tem um espantoso trabalho de baixo condimentado com coros tribais; Mais Depressa tem uma curiosa relação entre a letra e a música com João a cantar “mais depressa… mais depressa” e a música a acelerar; A Unha e a Carne mostra o trio a abrir as portas a algum experimentalismo. Isto antes dos dois brutais temas finais: Oiço Vozes e Grito são mágicas. Do que melhor já se fez no que ao rock nacional diz respeito. Poderíamos referir as duas vozes na estrofe inicial de Oiço Vozes ou o trabalho de baixo e bateria de Grito, mas isso são apenas pormenores do que podem ouvir. Como se vê, Sobrenatural marca uma importante evolução na carreira dos Gazua e mostra-se o mais ambicioso trabalho da banda até agora, apresentando um conjunto diversificado de recursos (a utilização subtil de guitarra portuguesa será um dos mais importantes) enriquecedores da sua sonoridade. E o objetivo foi atingido com distinção. Sobrenatural é um sério candidato ao melhor disco do ano. 

Tracklist:
1.      Sinfonia
2.      Envolve-me
3.      Sobrenatural
4.      Montanha
5.      Tempestade
6.      Sangue Bravo
7.      O Muro
8.      Mais Depressa
9.      A Unha e a Carne
10.  Oiço Vozes
11.  Grito

Line-up:
João Corrosão – voz e guitarras
Paulinho – baixo
JP – bateria

Internet:

Edição: Rastilho Records 

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